Eu e meu boxer branco Sathya- capítulo 2

Quando acabou o almo-jantar de dia das mães, Manuela se foi e ficamos só nós, Sergio eu e os dois dogs… Sathya e Shanti!!!

Sathya continuava deitadinho no pufão do sofázinho e nós colocamos um filme para assistir… ele ficou ali aos nossos pés e para dizer a verdade nem sei por que fiquei ali assistindo aquele filme, que era lindo mas eu estava aérea… uma tristeza inexplicável  havia voltado para meu coração e um peso enorme tomou conta do espaço.

Terminamos de assistir o filme e fui para nossa sala de meditação com coração apertado e pedi ao Serginho que trouxesse o Sathya para junto de mim pois ele estava dormindo e senti que havia piorado… parecia triste e muito caído.

Sergio o colocou ao meu lado sobre almofadas e eu fiz uma longa reza, em voz alta, para que ele pudesse se beneficiar.

Horas depois subimos para nosso quarto e o acomodamos em  sua poltrona, hora de dormir… e percebi que ele estava agitado então puxei a grande poltrona para junto dos pés de nossa cama.

Foi sua ultima noite conosco que não dormiu quase nada e nem eu, ora o acariciando, ora o abraçando… ora dando gelinho para ele lamber e saciar a sede.

Quando despertador tocou as 6 da manhã,  eu não tinha dormido nada então me arrumei e saí para uma visita a duas casas de um antigo cliente que havia marcado para as 8hrs da manhã e o deixei com o Serginho. Saí… meu coração partido!

Voltei para casa as 10hrs  da manhã e o encontrei deitadinho num colchãozinho florido aos pés da mesa de trabalho do Sergio, coberto por uma manta azul claro completamente sem energia então ligamos para o Dr Aluisio que nos instruiu para leva-lo para uma clínica tomar soro e assim se fortalecer e no dia seguinte leva-lo até ele para que pudesse avaliar o tratamento.

Ligamos para clínica e como a veterinária estava fora só conseguimos marcar para as 13hrs!!!! Ainda eram umas 10:30hr e eu também estava um caquinho, assim… pedi ao Elias, nosso motorista e pessoa de confiança da família de muitos anos e que amava o Sathya de verdade,  que o carregasse no colo até o sofá do living.

Ali, juntinho dele, eu me deitei e abraçados nós dois dormimos até a hora em que o Serginho nos acordou dizendo que já era bom sairmos para a clínica!

Enquanto saíamos de carro, com ele e eu no banco de trás, da garagem para nosso ultimo passeio com ele, Elias levava o Shanti para passear pelo bairro…  e pude ver a cena de nosso carro virando a esquina… e o Shanti olhando pra trás parecendo entender que nunca mais o veria.

Depois o Elias nos contou que o Shanti fez todo o passeio de cabeça baixa e sem latir.

Sahtya parecia bem, apesar de fraco estava sonolento mas tranquilo e dormia enquanto eu o afagava,  quando me distraí conversando com o Sergio sobre o caminho e de repente ouvimos um sofrido, longo e profundo uivo que parecia surreal …mas era real!!!!

Assim… ficamos atônitos e muito angustiados num transito parado a caminho da clînica que nosso veterinário nos indicou na Vila Mariana!!!

Chegamos lá com Sathya completamente largado e sem forças, Serginho o carregou no colo e o colocou numa maca prateada, fria… enquanto eu o cobria com a manta azul . Estávamos ali com coração em pedaços em busca de ajuda, desesperados… e enquanto na nossa frente,  esperávamos a veterinária falar com cliente novo ao telefone , eu pensava… como a vida se passa entre um cliente novo e outro antigo … de ganhar dinheiro… e de o quanto somos tolos.

Finalmente ela se libertou daquele telefonema frívolo, olhando para o Sathya e para nós dois. Foi extremamente gentil e humana!

Colocou o soro no Sathya e uma agulha de acupuntura na sua testa para que ele pudesse relaxar pois estava sofrendo muito.

Depois disso…

Conversamos sobre o estado dele e ela saiu por algum tempo, acho que por  pouco tempo e voltou com aparelho de ouvir coração e pulmão… estetoscópio!

Em seguida ficou ansiosa e muitíssimo preocupada dizendo que o estado dele era muito grave e que ali na sua clínica, ela só tinha medicamentos de homeopatia e naquele caso precisaríamos de medicamentos mais fortes!!!

Ficamos atordoados e ela nos disse que tinha uma clínica vizinha, de dois amigos, excelentes veterinários que era mais capacitada em aparelhagens para um caso grave como o do Sathya.

Enfim, ligou para eles e saímos de lá como baratas tontas ao encontro da tal clínica.

Nesse trajeto que era supostamente vizinho e que poderíamos ir a pé… o Serginho no desespero se perdeu e ficamos rodando pela redondeza enquanto no banco de trás eu passei pelos piores momentos de minha vida e do Sathya.

Explico:  no trajeto,  Sahtya teve muitas convulsões, seguidas… uma após a outra, violentas e eu o segurava como podia.

Foram horríveis pois ele se transfigurava literalmente,  torcendo a boca, levantando os lábios e mostrando os dentes, gemendo de dor e desespero enquanto eu gritava para o Sergio ainda perdido no transito e no caminho, que o estávamos perdendo até que veio a última convulsão no carro, aterrorizante… depois de se torcer como nas outras ele… com a sua língua de fora também torcida, virou os olhos, esticou as pernas e soltou sua cabeça para trás, tudo numa fração de segundos! (entendi que era a convulsão de nível 5, aquela que é a mais forte de todas)

Depois dela, por um momento,  achei que ele havia morrido mas não, ele voltou a me olhar, exausto!!!  estava vivo!

Chegamos a clínica nesse estado e enquanto 0 Sergio tirava o Sathya do carro eu tive uma catarse!!!!

Chorei desesperadamente por alguns minutos abraçada ao banco do motorista até que me recompus e corri ao encontro deles…

Subi para uma espécie de sala de emergência onde encontrei meu cãozinho deitado sobre uma maca prateada e fria com oxigênio e soro já nele acompanhado por dois veterinários experientes e dedicados mas assustados pois nem sequer conheciam o paciente e seu histórico.

Olhei para o Serginho e só via dor e desespero… andando de um lado para o outro!!!

Não havia mais nada a fazer, um dos médicos me deu o estetoscópio para que eu pudesse ouvir sua respiraçãozinha frágil, como uma vela se apagando…

Nesse momento os dois doutores ainda lutavam querendo colocar no soro, Gardenal e ou um tranquilizante para que ele não sentisse dor mas daí o Sergio perguntou se isso tiraria a consciência dele e eles disseram que sim então… nós decidimos que não!!! nada faríamos…

Pois pela nossa filosofia de vida na hora da morte é melhor que estejamos presentes e conscientes então… depois de tirar o oxigênio do narizinho dele, os dois veterinários saíram da sala com respeito a nossa dor, apagando a luz fria e nos deixando somente com a luz suave da janela.

Assim, entoando os mantras que acreditamos ajudar na passagem… ele se foi.

Para sempre!!! Tranquilo e cheio de amor.

Acredito que se eu não tivesse passado pelo que passei no carro com ele,  eu jamais teria tido tanta  certeza e força para aceitar !

Aceitar sua partida, saber  que sua hora chegara .

Ele partiu com apenas aquele sofrimento. Acabou essa vida.

Como acredito em renascimento, sabia que havíamos feito tudo para que ele tivesse um bom renascimento e naquele momento tive a minha primeira experiência de literalmente ver a morte de muito perto e isso, apesar da dor, mudou minha vida, para melhor!

A morte existe, mesmo sabendo disso, ve-la levando de forma fugáz e inesperada alguém que amamos e convivemos diariamente por 10 anos é doloroso mas nos dá consciência que ela faz parte da vida e pode chegar a qualquer momento, para qualquer um de nós.

É na tragédia e não no drama que a transformação acontece!

Ainda fiquei com ele numa sala que me transferiram `a espera da empresa que contratamos para leva-lo para ser cremado.

Nem sei por quanto tempo… mas sei que foram algumas horas que se passaram rapidamente enquanto eu me despedia dele.

Parei de chorar por que aprendi que nesse momento é melhor ficar sereno e deixar quem faz a partida,  ir… sereno!

Arrumei seus lábios de volta , fechei seus olhinhos suavemente , o limpei com gaze para que fosse limpinho e o acariciei agradecendo todo tempo que estivemos juntos nessa vida.

Entoando mantras fui passando nossa vida juntos a limpo enquanto podia ouvir o coração da cidade pulsando.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

8 comentários em “Eu e meu boxer branco Sathya- capítulo 2”

  1. Querida, não tenho palavras pra dizer, e muuuitoooooooo dificil aqui também sofremos muuuitooo com a partida do Trovão, força pra vocês. Beeeeeeijooooooossss

  2. Lendo com Petit(meu griffon de bruxelas) a meus pés,e,chorando.. pois algum dia também terei que passar por algo parecido..dói só de pensar..grata,Neza.

  3. Neza,passo por aqui várias vezes e não sei o que escrever.Vejo as fotos e como te acompanho a muito tempo sei da sua dor.
    Lembro de uma vez que um dos dois ficou doente e vc ficou enlouquecida.Vcs estavam na casa da serra.Lembro mt da sua angústia.
    Só o tempo p/amenizar essa dor!
    Um abraço bem apertado com mt amôr!

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